num verao desses do rio de janeiro
(no rio de janeiro eh sempre verao)
conheci um menino.
o menino gostava de poemas
que falassem de guarda-chuvas
e colherinhas de cafe
e dos pedacos de veludo grena
das antigas colchas de retalho
com que ele se tapava
quando era pequeno
(e tocava o veludo com a ponta dos dedos)
e que so as avos sabiam fazer.
um dia o menino morreu
e todo mundo que gostava dele
e de poemas com guarda-chuvas,
colchas de retalho e cafe
achou que era tolice gostar de
colherinhas, capas de chuva e
veludo.
o menino, se estivesse vivo,
esse sim
daria boas risadas.