estou?
 

 

todo mundo que viaja tem que ter um blog. se é pra portugal, então, é indispensável que o título do blog seja uma piadinha. aqui estou eu. está lá?

 
 
   
 
sábado, junho 03, 2006
 
então: já tem 2 semanas que tou no estágio e ainda não contei, né?

no primeiro dia lá fui eu pegar o autocarro em campo grande. é que todos os dias o autocarro nos leva e nos traz, porque a cinemateca fica numa quinta imensa em loures, cidade vizinha a lisboa. eu acordei cedíssimo, imaginem, pra não correr o risco de perder o autocarro. tava meio nervosa, claro. mas cheguei a tempo (ok, confesso, cheguei bem cedo e tive que esperar, hehe) e qual não foi a minha surpresa ao chegar perto do autocarro e ver os dois moços da revisão e eles me reconhecerem (da minha visita ao arquivo alguns dias antes). um deles, o vitor, que é angolano, me perguntou: "então, pronta pra a revisão?". muito simpático! eu fiz uma cara de quem comeu comida estragada, porque não sabia e não sei o que responder numa situação dessas! devo ter pensado: será que já vou ser desmascarada? hehehe. mas a verdade é que quando cheguei lá já fui ficando logo menos nervosa. o vitor e o filipe, que é o outro cara que trabalha comigo e que é português, são muito simpáticos e super pacientes. o filipe me disse pra eu ficar junto deles vendo as coisas, como é que eles fazem e tal e quando eu quisesse, demorasse 1 hora ou 1 semana, poderia então passar pra a parte prática, meter a mão na massa. o filipe disse: "às vezes estou de mau humor, não liga não que não é com você nem com ninguém, é com o mundo. e você vai perceber que o vitor é muito mais paciente que eu", mentiras deslavadas. fiquei então colada aos meus dois colegas e perguntando tudo tudo tudo, coitados. e eles nem tchum, tão pacientes que não só respondiam o que eu perguntava como falavam muito, explicando tudo tintim por tintim. dizendo basicamente o que a gente faz lá na revisão: é a área do arquivo onde se revisam as cópias que entram e saem de lá. todos os filmes que passam no cinema da sede da cinemateca em lisboa (5 por dia) mais todos os que são pedidos por outras pessoas, para festivais, mostras, visionamentos no próprio arquivo etc. passam peloa revisão na saída e na entrada. na primeira revisão de uma cópia a gente anota o máximo de coisas possível: se é acetato ou poliéster (nitrato não costuma passar por lá), qual o estado da cópia (é atribuído um número de 1 a 9 de acordo com o estado em que a cópia se encontra, se está degradada, se tem muitos riscos, se tá "avinagrando", se tem muitas perfurações partidas...), se tá encolhida e quão encolhida tá no início, meio e fim de cada bobine, se tem muitos riscos, se tem muitas perfurações partidas, se a emulsão tá quebradiça e aí por diante. também se marcam alguns fotogramas e se anotam os tipos de colagens que tem no início e no fim de cada bobine, pra saber se quando projetaram a cópia o projecionista montou e se eventualmente cortou fotogramas fora (a cópia de câncer, do glauber rocha, que eu revisei ontem, tava com dois fotogramas a menos que na última revisão). daí, fora anotar tudo, a nossa missão principal é fazer com que a cópia fique em melhor estado possível para ser projetada. às vezes é difícil fazer muita coisa, por exemplo quando pedem o filme em cima da hora e ele está em mau estado (se estiver muito ruim mesmo e não der tempo de melhorar as coisas, às vezes pode até ser que se cancele a cessão, é assim que se escreve?, do filme). então em geral lá vamos nós: refazer as colagens que estejam mal feitas ou em que a cola esteja velha, "babando", o que prejudica o filme. limpar sujeira de cola que exista, com álcool. reparar perfurações que estejam partidas ou que não existam (pra isso a gente usa uma espécie de fita durex com perfurações iguaizinhas à da película, aí cola ali exatamente em cima do pedaço que tá com problema. isso às vezes é lixado, porque quando a película tá encolhida tem que ser de pequenos em pequenos trechos, então imagine se aquilo tem 2 metros de perfurações todas partidas...).
enfim, é legal! é muito calmo, tem que ter paciência... o ambiente da nossa sala é muito agradável, porque é ampla e clara. o fato de meus colegas de sala serem muito gente boa tambem ajuda, lógico. daí a gente ouve sempre música, o dia inteiro (é das 9 às 5). o vitor, que é o angolano, adora música brasileira e sempre leva coisas (chico, caetano, moreno mais 2 que eu achei muito bom e que não nega a origem) e o felipe leva muitas coisas portuguesas boas, algumas das quais eu já conheço (os citados uns posts abaixo) e outras que não, além de coisas de rock, o que é sempre ótimo. ah, ele canta fado de coimbra! muito maneiro.
como lá não tem almoço, ou a gente leva alguma coisa pra esquentar lá no microondas, na sala de almoço, ou desce pra comer numa tasca lá perto. eu não tenho tido tempo nem de cozinhar em casa nem de ir ao supermercado, por isso sempre desço com o pessoal (alguém, geralmente um garoto chamado andré, sempre dá boléia). problema é que lá não tem comida comida, então a gente tem que comer uma sopa e uma sandes... a hora do almoço também é legal, porque é quando a gente encontra todo mundo ou quase que trabalha lá, alguns dos quais muuuuito figuras, tipo o projecionista, o gigante. o papo sempre descamba pra política, futebol e filmes. invariavelmente, todos os dias.
na nossa sala a gente também conversa muito, o tempo todo. o vitor é mais calado, mas o filipe adora conversar e é peça rara. fala muita sacanagem, conta piada... fala muito de filmes de uma maneira emocional e por isso eu sempre me identifico. é um daqueles aficionados por filmes de terror, ficção científica, western, mas por filmes em geral também. e por banda desenhada (história em quadrinho), lógico, como todo fã de terror que se preze. o vitor tem uma admiração pela lapa sem nunca ter estado lá e sempre me pergunta coisas sobre a lapa e sobre o brasil em geral. lê jornais brasileiros e depois vem comentar umas coisas comigo: claro que ele sempre tá mais por dentro do que eu.
dos outros lá da cinemateca tem uns que são muito maneiros, mas com quem convivo menos. tem o mocinho que me dá carona todos os dias, que já foi fotógrafo pra jornal e agora estranha a vida pacata da cinemateca. tem um moço muito simpático que é crítico de cinema e puxou papo comigo. depois me disse que disse aos seus alunos na universidade onde dá aulas, numas aulas sobre "novas vagas": o melhor filme do mundo é brasileiro e se chama vidas secas. me diverti bué com ele contando as personalidades brasileiras que ele conhece. o diretor lá do arquivo é sempre tão simpático também e sempre me pergunta como é que vão as coisas por lá. há outros estagiários, na verdade quase sempre estagiárias. uma delas é de marinha grande e ficou surpresa quando eu disse que conhecia a cidade dela: "eu sempre digo que sou de leiria porque ninguém conhece a marinha...". e tem uma croata com sotaque italiano, é curiosíssimo!
agora que sou trabalhadora cinematequense eu tenho entrada grátis lá no cinema da sede e direito a levar um acompanhante (pena que não tenho ninguém pra levar! hahaha. bem, fabio e vlad e bernardo continuam meus fiéis companheiros) e também recebo um exemplar das coisas que são editadas pela cinemateca (espero que tenha algum catálogo até eu ir-me embora).
e, numa boa hora da vida, fiz pelo menos dois novos amigos. "vamos tomar uma cerveja lá no chapitô", disse um deles. claro, é animador.

 

 
   
  This page is powered by Blogger, the easy way to update your web site.  

Home  |  Archives